Howl (2010 – 82min)
Direção: Rob Epstein e Jeffrey Friedman
Roteiro: Rob Epstein e Jeffrey Friedman
Elenco: James Franco, Jon Hamm, Mary-Louise Parker, Jeff Daniels, Todd Rontoni e Jon Prescott
Não consigo encontrar argumento plausível que explique a tentativa da indústria cinematográfica de insurgir o movimento beatnick nos dias de hoje. Nesse momento, Walter Salles está a se ocupar da adaptação de “On The Road” – obra mais expoente do movimento beat – para os cinemas. E, mesmo que ainda seja cedo, o projeto anda bastante criticado – devido, sumariamente, à presença da fraquíssima Kirsten Stewart, o que pode, também, ser lido como uma tentativa de aproximação do público mais teen. Não vou prever resultados, ater-me-ei à “Howl”, filme de Rob Epstein e Jeffrey Friedman que tem como base argumentativa a vida e a obra – de mesmo nome – de Allen Ginsberg. Adianto-lhes, porém, que se a tal “onda” seguir os parâmetros de qualidade de “Howl”, o resultado estará longe de ser maléfico.
O fato de o filme ser dirigido por dois até então documentaristas, explica o tom que o longa emprega. Mistura depoimentos de Ginsberg – interpretado por um brilhante James Franco – e cenas do verídico julgamento do Estado Americano contra a obra, acusando-a de ser “deveras obscena”. E ao passo que o personagem de Ginsberg explica a poesia metaforicamente e com todos os trejeitos possíveis de um poeta; no tribunal, a obra é dissecada tecnicamente. E esse embate de discursos – quase um embate entre poesia e prosa – dá certa flexibilidade no roteiro, podendo, assim, mesmo os que não conhecem a obra discutida, terem noção do que ela representa no plano geral.
O julgamento, aliás, torna-se tão ou mais importante que os relatos de Ginsberg à partir do momento em que se propõe à discutir a arte. Como a mesma é interpretada, sua função no meio social, o público do qual ela se dirige, o pudor e asco da sociedade americana perante algo que não compreende… As discussões que dali poderiam ser retiradas são várias.
A poesia de Ginsberg é algo quase sensorial, pouco palatável. Logo, transpor a mesma para a cinematografia seria algo difícil. E é aí que os recursos usados no longa se encaixam. As animações são perfeitas, em visto de que completam as palavras proferidas por James Franco em imagens e seqüências abstratas. Outro recurso é o já falado tom documental: ele serve de pretexto para que a vida de Ginsberg seja exposta.
Em meio a esse deleite visual – e de certo modo, literário – o que destoa é a falta de certa agressividade típica dos beatnicks. São todos belos atores em meio à belos cenários que ocorrem como eufemismos para a sujeira e podridão um tanto charmosa das noites nova-iorquinas regadas à jazz e drogas. Alerto, talvez, que isso seja apenas chatice de um alguém que perdeu horas na companhia indireta de Kerouac, Burroughs, Ferlinguetti e, Ginsberg. Não creio que ser problema para o público maior.
Nota: 9,0
[…] – Cinesom fala sobre o “outro” filme de James Franco esse ano, HOWL. […]